quinta-feira, 18 de março de 2010

A PÁSCOA CELEBRADA EM TRÊS DIAS

A PÁSCOA CELEBRADA EM TRÊS DIAS
Este tríduo é a própria realidade da Páscoa do Senhor, celebrada sacramentalmente em Três dias: a Sexta-feira Santa celebrada a paixão; o Sábado Santo, a sepultura; o domingo, a ressurreição. Cada dia do tríduo relembra ,que a idéia da ressurreição supõe a da morte. O centro dos três dias é a Vigília pascal, com a celebração eucarística.
As normas universais sobre o ano litúrgico esclarecem que “O Tríduo pascal da paixão e da ressurreição do Senhor inicia-se com a missa da Ceia do Senhor, tem o seu fulcro na Vigília pascal e termina com as vésperas do domingo da Ressurreição”
                Como se pode notar, a Quinta-feira Santa não faz parte do Tríduo e volta a ser, como o era antigamente, “o dia anterior à páscoa” ou, mais simplesmente, “a quinta-feira da última semana da Quaresma”.
Santo Ambrósio, apoiando-se na tipologia da reconstrução do templo em três dias, afirma:
 “É preciso que observamos não apenas o dia da paixão, mais também o da ressurreição, de modo a ter um dia de amargura e também um dia de alegria, de modo a jejuar naquele dia e a ser saciado neste outro...É este o tríduo sagrado...durante o qual Cristo sofreu, repousou e ressuscitou, a respeito do qual ele diz: ‘destruam esse templo e eu reerguerei em três dias’”.

MISSA VESPERTINA “IN CENA DOMINI”

A reforma do Missal e do ano litúrgico desejada pelo concílio Vaticano II, como já dissemos, coloca a missa “in cena Domini” como abertura da celebração da “bem aventurada paixão”, restabelecendo a unidade do Tríduo pascal.
De fato, este dia nos fornece o momento sacramental do próprio mistério, ou seja, atua-o perpetua a sua presença através de todos os tempos. Assim, enquanto o Tríduo nos apresenta a realidade do mistério pascal único e unitário na sua dimensão histórica, a Quinta-feira Santa o transmite em sua dimensão ritual. Dever-se-ia evitar apresentar aos fiéis esta eucaristia como a “missa da comunhão pascal
De fato, Cristo tomou o pão e o cálice, deu graças, partiu o pão e o deu a seus discípulos, dizendo: ‘Tomai e comei, bebei; este é o meu corpo; este é o cálice do meu sangue. Fazei isto em minha memória’
Por isso, a igreja dispôs toda a celebração da liturgia eucarística em vários momentos, que correspondem a estas palavras e gestos de Cristo” (n. 48).
Celebrar a Páscoa, fundamentalmente, significa celebrar o rito eucarístico.
Para sermos exatos, devemos considerar quatros Páscoas da história da salvação:
1. A Páscoa do Senhor, isto é, a passagem salvífica do Senhor na noite as saída do Egito;
2. A Páscoa dos judeus, ou seja, a celebração do “memorial” ou memória objetiva realizada com o rito da ceia pascal (cf. Ex 12,14; 13,8-9);  

3. A Páscoa de Cristo, isto é, a sua imolação sobre a cruz, a “sua passagem deste mundo para o Pai” (Jo 13,1), através da paixão e da ressurreição;
4. A Páscoa da Igreja celebrada sacramentalmente, “in mysterio”, anualmente, mas também semanal e cotidianamente no rito eucarístico
O rito pascal, tanto no AT com o Novo NT, está intimamente ligado à Páscoa histórica, da qual é memorial eficaz, presença real da salvação e anúncio do seu cumprimento definitivo .       A Ceia pascal de Cristo não tem outro significado. Inserida no ritual da ceia pascal hebraica, recebe dela a tríplece ligação que a une à Páscoa que, embora sendo evento histórico (libertação de Israel do Egito), é essencialmente simbólica, pois está orientada para a futura libertação “messiânica”, o rito realizado por Cristo (pão-vinho = corpo de Cristo, verdadeiro cordeiro pascal, e sangue da verdadeira aliança em relação à aliança do Sinai, conclusiva da Páscoa do Êxodo) é memorial, a presença da verdadeira Páscoa, que se realiza na “passagem” redentora de Cristo, e é anúncio da redenção completa, que se realizará quando “todos os homens” tiverem celebrado a “Páscoa de Cristo”. De fato, Jesus fala do seu sangue derramado para todos em remissão dos pecados (Mt 26,28).
O missal de Paulo VI dá a essa celebração eucarística um caráter festivo, unitário e comunitário:
Segundo uma antiqüíssima tradição da Igreja – dizem as rubricas – neste dia são proibidas todas as missas sem povo. celebra-se a missa “ in Cena Domini”, com a participação plena de toda comunidade local
A santa comunhão pode ser dada aos fiéis somente durante a missa; contudo, poderá ser levada aos doentes a qualquer hora do dia”.
Através dessas normas precisas, percebemos que a vontade da Igreja é fazer com que a atenção de toda comunidade local  para esta missa, a fim de que apareça, também no sinal externo, como uma celebração que tem por sujeito o povo de Deus reunido pelo sacrifício de Cristo, que agora torna-se sacramentalmente presente no sinal da ceia.
Através dessas normas precisas, percebemos que a vontade da Igreja é fazer com que a atenção de toda comunidade local  para esta missa, a fim de que apareça, também no sinal externo, como uma celebração que tem por sujeito o povo de Deus reunido pelo sacrifício de Cristo, que agora torna-se sacramentalmente presente no sinal da ceia.
Significativamente, a celebração abre-se com o canto de um texto paulino (Gl 1,14), que exprime o caráter pascal da vida cristã: uma vida que se glória da cruz de Jesus Cristo, unicamente no qual encontra-se a salvação: “ Não nos gloriaremos em outra coisa senão na cruz de Jesus Cristo, nosso Senhor: ele é a nossa salvação, vida e ressurreição. Por meio dele fomos salvos e libertos”.

A LITURGIA DA PALAVRA

As leituras nos falam do rito pascal do Antigo e do Novo Testamentos, tendo no centro a ceia pascal celebrada por Jesus com os apóstolos, que funciona como dobradiça entre a Páscoa ritual hebraica e a cristã.
A primeira leitura (Ex 12, 1-8.11-14) narra a instituição do rito memorial dos acontecimentos do Êxodo, que anunciaram e prefiguraram a Páscoa de Cristo: a imolação do cordeiro para o rito da ceia, feita por toda a assembléia da comunidade dos filhos de Israel ao pôr - do- sol, como vítima pascal em honra do Senhor (vv. 6 e 11); a passagem do Senhor, durante a noite, para ferir dos primogênitos do Egito (v. 12); o sinal distintivo para proteger as casas dos filhos de Israel (v, 13); o dia memorial da Páscoa, a ser celebrada como festa em honra ndo Senhor por todas as gerações (v. 14)
O salmo responsorial . Reunida no Espírito Santo para celebrar a Ceia do Senhor, a Igreja responde à palavra de Deus com um salmo de ação de graças, de bênção para o grande benefício recebido no dom da eucaristia. É o salmo 115 (VV.12-13, 15-16bc.17-18).
O refrão do salmo, confiado ao canto de toda assembléia (o texto de Paulo: 1Cor 10,6), pretende ser uma celebração do natal do Cálice, isto é, do dia em que Cristo toma o Cálice do seu sangue, o verdadeiro Cálice da salvação, e confia à sua Igreja: “O teu Cálice, Senhor, é dom de salvação”.

Na segunda leitura (1Cor 11, 23-26) o apóstolo Paulo dá-nos a descrição e o sentido da ceia pascal cristã, celebrada por ordem do Senhor: não uma refeição qualquer, mesmo de caráter religioso, mas um banquete sacrifical e pascal indissoluvelmente ligado ao sacrifício de Cristo, verdadeiro cordeiro morto e glorificado para os nossos pecados e, por isso,  nossa verdadeira Páscoa:um banquete sinal da nova  e definitiva comunhão com Deus e entre os homens, por meio de Cristo (a nova aliança); rito memorial da morte salvífica do Senhor até a sua vinda.

O EVANGELHO

Está intimamente ligado ás duas leituras anteriores e as ilumina com a figura de Cristo que, embora sendo Senhor e mestre, se fez servo, lavando os pés dos apóstolos. Esse gesto de Jesus é muito mais do que um ato de humildade. É um gesto através do qual o Senhor deseja fazer compreender o sentido profundo da sua missão redentora: um serviço de amor a Deus e aos homens, que chega ao seu ápice na paixão e morte: “Não vim para ser servido, mais para servir e dar a vida em resgate de muitos” (Mc 10,45). Não é por acaso que Jesus realiza esse humilde serviço “na noite em que foi entregue”.  João introduz o gesto e sublinha coma força de solenidade de linguagem (cf. Jo 13, 1)
Os textos do Novo testamento lembram-nos coerentemente que a celebração do “serviço” e da humilhação do Senhor na missa exigem a imitação do exemplo de Cristo na vida pessoal: “Eu lhes dei um exemplo: vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz” (v.15). A prática do mandamento da caridade fraterna é o verdadeiro sinal da Páscoa de Jesus, feita nossa no sacramento e expressa na Vida. Em outras palavras, é o “sinal” da nossa passagem da morte para a vida. São João afirma: “ Nós sabemos que passamos da morte para a vida (fizemos  Páscoa), porque amamos aos irmãos. Quem não ama permanece na morte” (1Jo 3, 14).
É nesse contexto que deve ser visto o rito do lavapés. Desde o tempo de Santo Agostinho, era comum a prática do lavapés na Quinta-feira Santa. A reforma litúrgica de Pio XII, em 1955, permitiu que esse rito pudesse ser feito, depois da homilia, em todas as igrejas onde fosse celebrada a missa “in cena Domini”. De fato, até então, o rito era reservado para as igrejas catedrais. Este gesto exprime e condensa um rico conteúdo proclamado pela liturgia da palavra e atuando pela eucaristia: o sangue da aliança, a unidade na caridade dos redimidos pelo sangue de Cristo, o mútuo serviço na humildade e na caridade.

Portanto, o rito deve ajudar a compreender melhor o grande e fundamental mandamento da caridade fraterna. Do contrário, se for apenas uma representação mais ou menos cênica, sentimental e isenta de autenticidade, é melhor deixá-la de lado e substituí-la por algum gesto mais verdadeiro e concreto de exercício de caridade; por exemplo, a apresentação de ofertas para os pobres, no início da liturgia eucarística.
As orações  do Missal romano exprimem o mistério da seguinte maneira:

Coleta:
Ó Pai, estamos reunidos para a santa ceia, na qual o vosso filho único, ao entregar-se à morte, deu à sua Igreja um novo e eterno sacrifício, como banquete do seu amor. Concedei-nos, por mistério tão excelso, chegar à plenitude da caridade e da vida”.
Sobre as ofertas:
“Concedei-nos ó Deus, a graça de participar dignamente da Eucaristia pois todas as vezes que celebramos este sacrifício em memória de vosso filho, torna-se presente a nossa redenção”.
Após a comunhão:
Ó Deus todo-poderoso, que hoje nos renovastes pela ceia  do vosso Filho, dai-nos ser eternamente saciados na ceia do seu reino”.
O prefácio
O motivo de ação de graças é o sacerdócio eterno, o sacrifício de Cristo com o seu sacramento, a missa, que perpetua a memória até a sua vinda: “Ele verdadeiro e eterno sacerdote, oferecendo-se a vós pela nossa salvação, instituiu o sacrifico da nova Aliança e mandou que o celebrássemos em sua memória. Sua carne, imolada por nós, é o alimento que nos fortalece. Seu sangue, por nós derramado, é a bebida que nos purifica”.
Evidencia-se, assim, o caráter sacramental, sacrifical e escatológico próprio de toda celebração eucarística: a missa é proclamação eficaz da morte salvífica de Cristo até a sua vinda (cf. 1Cor 11, 26).
O cânon romano, que é bom usar nesta celebração eucarística, tem algumas variantes que sublinham o “hoje” da liturgia.
A 1ª variante nas orações de intercessão: “Em comunhão com toda igreja, celebramos o dia santíssimo em que Jesus Cristo nosso senhor foi entregue à morte por nós”. “Aceitai com benevolência, ó Senhor, a oferta que vos apresentamos, nós, vossos ministros e toda a família, no dia em que Jesus Cristo nosso senhor confiou aos seus discípulos o mistério do seu corpo e do seu sangue, para que o celebrássemos em sua memória”.
Encontramos a outra variante na narrativa da instituição:
“Neste dia, vigília da sua paixão, sofrida pela nossa salvação e do mundo inteiro, ele tomou o pão etc.”.

A apresentação das ofertas é acompanhada pelo canto do antigo hino das ágapes cristãs, tão rico em conteúdo e significado nesta liturgia da ceia do Senhor: “Ubi caritas et amor, Deus ibi est”.
Portanto, toda a celebração seja calcada num tom da alegria, porque naquela noite, Jesus também estava contente: “Desejei muito comer com vocês esta ceia pascal, antes de sofrer” (Lc 22,15); e, tão: “Eu disse isso para que a minha alegria esteja em vocês, e a alegria de vocês seja completa” (Jo5,11).

A  ADORAÇÃO DA EUCARISTIA
Ao terminar a celebração da missa, as sagradas espécies são conduzidas processionalmente, cantando-se o hino eucarístico, para um lugar devidamente preparado, a fim de que sejam colocadas num tabernáculo, adoradas e conservadas para a comunhão da Sexta-feira Santa.
Nessa noite consagrada a lembrança da eucaristia, a Igreja, com o sinal da adoração, quer sublinhar também esse aspectos derivado e dependente da celebração da missa: a presença permanente de Cristo sob as espécies eucarísticas.
De fato, este sacramento, como diz o concílio de Trento, “não deve ser menos adorado, já que foi instituído por Cristo Senhor para ser recebido”
Na Quinta-feira Santa, a Igreja nos ajuda, assim, a “considerar o mistério eucarístico e toda a sua amplidão, tanto na celebração da missa, como no culto das santas espécies, que são conservadas depois da missa para alargar a graça do sacrifício” (EM 3 g)
A adoração deve terminar antes da meia-noite, para respeitar o significado da celebração própria destes dias. Nessa hora, substituindo a lembrança da eucaristia, entra a recordação da traição, da prisão, da paixão e da morte de Cristo. Portanto, termina oportunamente a adoração eucarística. Inicia-se o tríduo pascal da sexta-feira-sábado-domingo. A nossa piedade deve ser verdadeira também em seus sinais externos.

INDICAÇÕES PASTORAIS PARA A CELEBRAÇÃO DA MISSA VESPERTINA NA CEIA DO SENHOR
Reserve-se uma capela para a guarda do Santíssimo Sacramento e que ela seja ornada convenientemente, a fim de que possa facilitar a oração e a meditação; recomenda-se o respeito sobretudo que convém à liturgia destes dias, evitando ou removendo qualquer abuso contrário. Se o tabernáculo está colocado numa capela separada da nave central, convém que nela seja preparado o lugar para a reposição e a adoração.
Durante o canto do hino “Glória a Deus” tocam-se os sinais. Terminado o canto, não serão tocados até o fim da Vigília pascal, segundo os costumes locais; a menos que a conferência episcopal ou o ordinário do lugar estabeleçam diferentemente, conforme a oportunidade. Durante este tempo, o órgão e os outros instrumentos musicais podem ser usados unicamente para acompanhar o canto.               
O lavapés que, por tradição, é feito neste dia com alguns homens escolhidos, significa o serviço e a caridade de Cristo, que veio “não para ser servido, mas para servir”, É bom que essa tradição seja conservada e que o seu significado seja explicado.
Durante a procissão das ofertas, enquanto o povo canta o hino “Onde há caridade e amor”, podem ser apresentadas as ofertas para os pobres, especialmente aquelas recolhidas durante a Quaresma como frutos de penitência.
Terminada a oração após a comunhão, forma-se a procissão que, através da Igreja, acompanha o Santíssimo Sacramento até o lugar da reposição. O crucífero abre a procissão: levam-se as velas e o incenso.
A procissão e a reposição do Santíssimo Sacramento não podem ser feitas nas igrejas onde não se celebra a paixão do Senhor na Sexta-feira Santa.
O sacramento será guardado num tabernáculo fechado. Não se pode nunca fazer a exposição com o ostensório. O tabernáculo ou custódia não deve ter a forma dum sepulcro. Evite-se inclusive o termo “sepulcro”: de fato, a capela de reposição é preparada não para representar “a sepultura do Senhor”, mais a fim de guardar o pão eucarístico para a comunhão, que será distribuída na Sexta-feira da paixão do senhor.
Os fiéis sejam convidados a permanecer na igreja, depois da missa da Ceia do Senhor, por um certo espaço de tempo durante a noite, para a devida adoração do Santíssimo Sacramento, aí solenemente guardado neste dia. Durante a adoração eucarística prolongada, pode ser lida uma parte do evangelho de João (capítulos 13-17). Após a meia-noite, faça-se a adoração sem solenidade, pois, a partir daí, já começou o dia da paixão do Senhor.
Terminada a missa, o altar da celebração seja desnudado. Recomenda-se cobrir as cruzes da igreja com um véu de cor vermelha ou roxa, a menos que já não tenham sido coberta no sábado antes do V domingo da quaresma. As luzes diante das imagens dos santos não podem ser acendidas (nn. 44-57). 

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